A Exploração da Fé

Por Eduardo Guimarães


Em um país como o nosso, não deveria chocar um curso sobre técnicas de “venda” de “valores” intangíveis que ensina “vendedores” a envolverem o “cliente”. E é isso o que o jornal Folha de São Paulo denuncia hoje, um curso de técnicas de “venda” da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).

Não se trata, porém, da venda de um produto comum, mas da venda de fé a pessoas em situações que muitas vezes são de legítimo desespero. Vale, portanto, analisar até que ponto a matéria da Folha denuncia uma ilegalidade ou apenas uma deformação do sistema capitalista.

Como toda campanha de vendas, a da Iurd pode levar pessoas a gastarem o que não têm condições a fim de satisfazerem seus desejos de consumo, que podem ser desejos por produtos, idéias, status, auto-imagem e tantos outros “valores” subjetivos a cada um.

No vídeo gravado pela Folha contra sua inimiga Iurd, em dado momento os “pastores” se divertem com a história de um indivíduo que ganhava “18 mil por mês”, ficou desempregado e resolveu depositar “no altar” as economias que tinha para sobreviver. Chega a dar desespero imaginar que essa pessoa tenha cometido tal loucura.

Todavia, quem paga fortunas a “conselheiros” para ouvir palpites, sejam eles pais-de-santo, igrejas, consultorias de investimentos ou publicitárias, psicanalistas etc., simplesmente compra o intangível. Não me parece ser vedado, pois, que um indivíduo gaste seu dinheiro com ideologias e nada mais do que isso.

A matéria do jornal paulista tenta transformar em crime uma prática comum em várias religiões e até em “consultorias” de variados tipos. Contudo, não se pode negar o aspecto repulsivo dessas táticas para fazer as pessoas gastarem o que não podem ou não devem em alguma coisa cujo retorno é duvidoso, para dizer o mínimo.