segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Wagner e a nova hegemonia

Por Emiliano José


O Instituto Datafolha divulgou, um pouco antes do Natal, pesquisa que indicava vitória do governador Jaques Wagner no primeiro turno nas próximas eleições, em quaisquer dos cenários indicados. A sondagem exige reflexão, mais do que foguetório. Este deve ser reservado para o pós-eleição. Pesquisa é importante, mas é uma fotografia de um momento. Mas, indica uma tendência. O momento mais difícil do governo, causado pela restrição advinda da crise ocasionada pelos fortes ventos de Wall Street de setembro de 2008, já está superado. A partir daqui, a ação governamental tende a crescer e, com ela, a aceitação do governador.

Penso, no entanto, que o balanço do governo Wagner deve caminhar não com base na análise dos números da pesquisa. Esses números nos convocam a perguntar o porquê da aceitação do governador e de seu governo, a entender a mudança que a Bahia está experimentando. Não se trata apenas de analisar a gestão estrito senso. Mas de procurar entender a nova hegemonia que vai se constituindo em nosso Estado. O povo da Bahia decidiu em 2006 que aquela hegemonia, fundada num aparato midiático poderoso, numa exclusão social impressionante e num evidente clima autoritário já não interessava mais. Aquela hegemonia perdera peso e substância.

O povo optou por um novo projeto político. Não queria mais o chicote numa mão, a bolsa de dinheiro na outra, fórmula que ficou como marca da oligarquia que governou o Estado por décadas. A mais significativa característica da nova hegemonia localiza-se na política. Descontado apenas o interregno dos dois anos de Waldir Pires, experimentamos agora, depois de tantos anos, um governo republicano, democrático e popular. O novo governo vinha da luta contra o autoritarismo local e muitos de seus quadros, inclusive o governador, das lutas contra a ditadura. A Bahia ganhava sintonia com o governo Lula, que representa também uma nova hegemonia no País.

O novo governo tinha de corresponder àquilo que estava no coração do povo, cansado da manipulação e da violência e da exclusão. O olhar do Estado, de suas políticas, devia voltar-se para as amplas maiorias. Não há mais a pergunta em torno da filiação partidária de quem quer que seja. As políticas públicas são voltadas para beneficiar os que dela necessitam. Já vi e ouvi vários prefeitos ou prefeitas de partidos de oposição elogiar o governador pela sua atitude ampla, democrática, generosa. Novos valores vão ganhando terreno, uma nova cultura política vai se afirmando, em contraposição ao antigo modo de fazer política.

Trata-se de um governo que tem prioridades claras: os desvalidos, os abandonados pelas políticas públicas, os analfabetos, os pobres, a agricultura familiar, as periferias das cidades, os que viviam sob a fome e a sede e a miséria. Embora não queira me deter em números, lembro que a política oligárquica produziu 2 milhões e 300 mil analfabetos na Bahia.

Manter grande parte do nosso povo nas trevas do analfabetismo era uma política. O governo Wagner já alfabetizou 460 mil pessoas e deve chegar a 1 milhão de alfabetizados até o final do governo. Poderia falar mais da Educação, da recuperação da Saúde, das políticas ousadas e inovadoras para o Semiárido, da política cultural, da recuperação da infraestrutura, da política para Salvador, e tantas outras iniciativas que estão mudando o nosso Estado. Mas esse texto não pretende ser um balanço de gestão, mas somente uma rápida análise de um projeto político que afirma novos valores políticos, morais e culturais.

Vivemos um quadro político-cultural absolutamente novo. Totalmente diverso do clima sombrio de autoritarismo, mesmo no pós-ditadura. Um clima de autoritarismo e de falta de transparência. Quem não se lembra que a oligarquia sequer disponibilizava a senha das contas públicas para os deputados? A traços muito largos, creio que a pesquisa recente indica que o povo da Bahia percebe as mudanças, consolida os valores pelos quais havia optado em 2006. E vai firmando a posição de que não quer a volta ao passado – nem a volta dos representantes diretos da oligarquia anterior, muito menos a eleição de qualquer simulacro.

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