quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Quem ganha com esta campanha suja e difamatória?

Por Carlos Néder *

No afã de ganhar o que considera a eleição de sua vida, porque Aécio Neves está na fila e a idade já não lhe permite outras oportunidades, a campanha de José Serra desceu a níveis inimagináveis.


Impossível que tenha chegado a tal degradação sem o seu aval e de seus colaboradores mais diretos. Método que reforça na população o sentimento de que a política está superada como prática edificante, o que poderá se traduzir em níveis de abstenção e anulação de votos nunca vistos! Assim, nos perguntamos sobre quem ganha com esta campanha de tão baixo nível. Como Marina Silva disse, há o risco de perder perdendo. O que não foi o caso dela! Ou de ganhar perdendo, em termos de valores, de estatura política e de dignidade.

Se por hipótese, e mesmo após esse tipo de campanha, Serra venha a ganhar, ainda que por uma pequena margem de votos, o estrago terá consequências por um tempo que irá muito além do mandato presidencial. Um desserviço à cultura da cidadania ativa e uma profunda divisão no seio da sociedade, que levará muito tempo para cicatrizar. E aqui não se trata de um apelo para que se arrefeça o sentido da oposição ao Governo Lula ou às plataformas de Dilma, mas que ela se faça apoiada em programas, projetos e denúncias consistentes. O resvalar de sua campanha para um enfoque enviesado acerca de temas caros a quem lutou contra a ditadura militar, como direitos humanos, das mulheres, negros, dos jovens, LGBTT, dos pobres e de melhor escolaridade, para citar alguns tão em voga em sua propaganda, quase sempre anônima e apócrifa, não condiz com a imagem pública que procurou cultivar e revela, isto sim, um seu lado mais do que nebuloso: sórdido!

Falo com a legitimidade de quem vem de uma família que militou e sofreu as consequências de ter vários de seus membros presos por terem sido filiados ao Partido Comunista. E ontem como hoje, quem diria, vimos assacarem o falso argumento de que queríamos matar as criancinhas brasileiras. Falo em nome dos que dedicaram suas vidas à viabilização de políticas públicas de inclusão social, ontem caracterizadas como subversivas diante da ordem instituída e hoje como equivocadas para quem deseja um outro perfil de desenvolvimento do país, que não o adotado pela equipe de Lula e majoritariamente elogiado nas pesquisas de avaliação do seu governo. Com a credibilidade de quem, em sua atuação parlamentar, fiscalizou atos de governos do próprio PT (nas áreas de saúde, informática e outras) e de partidos adversários (Frangogate, Detran, contratos superfaturados, etc.), mas sempre apoiado em dados consistentes e sem difamar o oponente.

Dessa maneira, conclamo ambas as candidaturas presidenciais, neste 2º turno, a que o tempo restante seja utilizado para debater ideias e projetos estratégicos que dignifiquem o país e o exercício da política. E que os apoiadores de minha candidata e de milhões de outros brasileiros e brasileiras, Dilma Rousseff, não caiam no erro de reagir utilizando meios tão deploráveis quanto os do nosso adversário. Que as denúncias de práticas ilícitas, se houver, sejam assumidas à luz do dia e por quem as faz e que delas se extraiam ensinamentos para fazer avançar ainda mais a democracia no país. Que possamos dignificar a ação política e reconhecer méritos nas propostas apresentadas pelos diferentes partidos e candidatos, incluindo as que foram defendidas por Marina Silva, Plínio de Arruda Sampaio e mesmo por nosso adversário nesta fase do pleito eleitoral.

*Carlos Neder é deputado estadual pelo PT/SP

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