segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Documentário "Os Magnificos", eu vi

Por Anabel Mascarenhas

Ontem à noite fomos ao Teatro Municipal assistir o documentário Os Magníficos, que foi alvo de críticas e gerou polêmica na mídia local/estadual antes mesmo de ser exibido. Tomando como base o trailler, uma criatura se sentiu no direito de praticamente convocar um boicote, por achar que a imagem da região cacaueira e dos Coronéis do cacau estava sendo denegrida no doc.

Como eu não faço parte do time “não vi e não gostei”, preciso ver com meus próprios olhos e não gostar com minha própria opinião, estava lá. Chegamos cedo, com medo de precisar brigar pra conseguir um bom lugar, mas… teatro vazio, apesar da entrada franca. [Isso é assunto para um post inteiro, a aversão que o povo da Capitania tem às manifestações culturais, até às gratuitas. Mas fica pra outra vez.]

A história da cacauicultura pode ser desconhecida no universo extra-regional, mas para nós que vivemos aqui, não é novidade nem causa espanto saber que o filme estava dividido em três capítulos: A Soberba, A Decadência e A Superação. O diretor escolheu abordar o tema através de histórias pessoais de herdeiros de grandes propriedades, que contaram um pouco de sua vida nos tempos áureos do cacau, passaram pela “quebra” e mostram como estão hoje. Filmado em 10 dias – 9 na região cacaueira e um em Salvador – é visível que é um filme de baixo orçamento, sem efeitos especiais, e com uma edição simples, sem exageros.

O filme não merece a crítica ferina que Adeir Almeida fez no jornal A Tarde de 11 de novembro de 2009, na seção opinião. Diz o leitor:

“Fosse um filme de ficção com financiamento privado, e estaria livre para focar nas exceções, nos herdeiros (dos “coronéis” pioneiros) incompetentes e perdulários, aqueles que a ficção afirma ter acendido charutos com cédula de dólar nos cabarés da região. Afinal, eles certamente existiram, mas “quebraram” décadas antes de a vassoura-de-bruxa ter sido introduzida e espalhada por bandidos.

Como registro histórico, entretanto, – pior, financiado com dinheiro do contribuinte – caberia manifestar a indignação do povo da região cacaueira quanto a este enfoque perverso, que pode ser visto no trailler. […] Uma afronta à nossa inteligência e à memória dos nossos antepassados. Além de um reforço à perpetuação do abandono pelos poderes públicos.

[…] É, em resumo, inaceitável que o Estado financie a difamação da nobre cultura do cacau na Bahia.”

Como legítima representante do “povo da região cacaueira”, filha e neta de cacauicultores – não grandes proprietários, mas seguramente homens que viveram (meu avô) e sofreram os reveses (meu pai) da crise que começou na década de 80 – posso dizer que o documentário não provoca qualquer indignação. A realidade do estilo de vida esbanjador dos grandes produtores não pode ser negada. Acordar de manhã em Ilhéus, Ir fazer a barba no Copacabana Palace no Rio de Janeiro e voltar à tardinha é mesmo um exagero, mas como disse uma das depoentes, “não é muito, comparado com o que acontece hoje”, especialmente na classe política. E olha que os cacauicultores (ou seus herdeiros) faziam isso com o dinheiro que o cacau lhes dava, e não com dinheiro do povo…

O filme mostra o “fundo do poço”, atingido pelos depoentes, sem muita “melosidade”. Gostei da maneira como mostrou a paixão de Ana Amélia Amado pelo cacau, pelas fazendas, pelas terras, chegando até a adoecer quando teve que vender a última fazenda, enquanto apresentou também um exemplo mais frio, o de Helenilson Chaves, que agiu como ele mesmo diz, “usando a inteligência, não apenas a paixão, sabendo que nada é pra sempre”, e diversificou seus investimentos, não chegando a padecer as penúrias que outros viveram no auge da crise.

O mais importante, a meu ver, foi a mensagem positiva de que, apesar de tudo que aconteceu – a vassoura-de-bruxa, a má administração e a falta de apoio governamental – ainda é possível continuar. Diversificando, como Helenilson Chaves, Investindo na qualidade e em cacau fino, como João Tavares, olhando para o lado espiritual como Ana Amélia, ou simplesmente vivendo como der, como Paulo Jorge.

Ao final, os diretores, Bernard Attal e Carlos Shintomi foram à frente para responder perguntas da platéia, e – surpresa! – levaram também vários dos depoentes-personagens do filme.

Saí do Teatro ainda mais apaixonada por minha terra, e ainda mais triste com a realidade dela. O filme é mesmo um documentário. Não difama ou denigre a imagem da região ou “dos nossos antepassados”. Mas também não ajuda na luta dos remanescentes da cacauicultura por apoio do governo para reerguer a região, pois não enfoca a ação criminosa de trazer a vassoura-de-bruxa conscientemente para cá, não mostra que alguém pode fazer alguma coisa. Mas essa não era a proposta, então, não podemos cobrar que seja um filme político.

É como uma história que simplesmente acaba. Sem final feliz. Ainda continuamos sem um aeroporto que funcione plenamente, sem infraestrutura para turismo e até mesmo sem um DPT.

Quem sabe, um dia?…

FICHA TÉCNICA

Filme: “Os Magníficos”

Roteiro e Direção: Bernard Attal

Fotografia: Matheus Rocha

Edição: Carlos Shintomi / Bernard Attal

Produção executiva: Diana Gurgel

Produção: Ondina Filmes

Realização: DOCTV

CONTATOS

Bernard Attal (diretor) 71 3242 8797

Diana Gurgel (produtora) 71 3242 8797 / 9961 3515

Carlos Shintomi (Assistente de Direção e co-editor) 73 9982 9223

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