Por Mair Pena Neto
Desde a primeira vez que ouvi um famoso samba do Salgueiro em homenagem à Bahia, assumi no meu imaginário aquela idéia de felicidade, mesmo com a ressalva dos coronéis do cacau e das desventuras dos capitães de areia dos livros de Jorge Amado. Na verdade, a Bahia é mesmo essa contradição de paraíso e purgatório, onde a beleza da natureza é agredida pelas injustiças e pelo comportamento de suas elites.
Viajar à Bahia é sempre uma experiência sociológica e um entrar em contato com essa realidade poderosa, que não é diferente de muitas outras partes do Brasil, mas parece que lá explode com mais cores, como a das águas de seu mar e a da beleza de seu povo.
Já tinha passado pelo pobre norte fluminense e cruzado o Espírito Santo de sul a norte, mas parece que as contradições brasileiras só se tornaram visíveis ao cruzar a fronteira da Bahia. Crianças se postavam junto a placas precárias com os dizeres pintados à mão “precisamos de alimentos” por alguns quilômetros da BR 101.
Em meio a um cenário de antigas fazendas e vegetação exuberante, aparecem, mais que nos estados vizinhos, os acampamentos de lona preta dos sem-terra, do MST e de outros movimentos. A contradição latente exposta a quem passa e não fecha os olhos.
Mais adiante, placas pichadas com “Fora ACM” lembravam o velho coronel já morto, mas enormes outdoors do ministro Geddel Vieira Lima, dizendo que o povo da Bahia pode contar com ele, revelavam que outros buscam ocupar seu posto com métodos não tão distintos.
Se os antigos coronéis já se foram, existe o novo coronelismo praticado pelos atuais detentores do poder. Na Bahia, tudo parece ter dono. O barqueiro que atravessa a baía de Camamu aponta uma vistosa ilha, cercada por coqueiros, e diz que ela é de Odebrecht. Não se usa o pré-nome, nem é necessário, o sobrenome é sinônimo de uma das maiores construtoras e a propriedade se encaixa no poder que ele exala. Meu filho pergunta: “Como alguém pode ser dono de uma ilha?” Pois é...
Na belíssima praia de Taipú de Fora, um desses inúmeros paraísos que a Bahia parece revelar de tempos em tempos, existe um único terreno que é separado da praia por cercas. Da areia avistam-se carramanchões e parte de uma extensa propriedade, que logo se sabe que pertence ao publicitário Duda Mendonça. Novos ricos, velhas práticas.
Viajar à Bahia é realmente um grande programa. Além de mergulhar em suas águas tépidas verdes e azuis, ainda se tem uma aula de realidade brasileira, que não passa despercebida mesmo de quem está apenas de passagem, em busca dos prazeres da boa terra.
Direto da Redação
2 comentários:
Ainda não tive o prazer de conhecer a Bahia. Certamente o farei quando a oportunidade aparecer.
Abração
A Bahia é um retrato do Brasil, paraíso tropical de praias lindas, berço cultural onde nasceram vários nomes da música e da literatura das artes. No entanto a pobreza é um fato que choca o turísta. Um desleixo das autoridades políticas desse Estado marcado pelo descaso.
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