Por Ricardo Carvalho*
Mesmo com a luta encampada pela bancada feminina da Câmara dos Deputados pelo empoderamento da mulher, o resultado das eleições do último 3 de outubro demonstrou que o espaço político ocupado pelas mulheres diminuiu. Neste ano, apenas 43 mulheres foram eleitas – 8,4% dos 513 deputados. Nas eleições de 2006, foram eleitas 47 deputadas, ou 9,16% do total. Atualmente, a bancada tem 45 deputadas. O número de candidatas pleiteando uma vaga como parlamentar cresceu em relação às eleições de 2006. Este ano, 1.340 dos 6.028 (22,2%) candidatos a deputado federal eram mulheres. Em 2006, foram apenas 737 mulheres num total de 5.797 candidatos (12,7%).
Para o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a principal causa para a baixa representatividade feminina nos resultados desta eleição é o fato de que as deputadas ocuparam poucos cargos de destaque na Câmara até este ano. É bom lembrar que até hoje a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados não contou com mulheres na sua composição.
A Câmara analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 590/06, da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que estabelece a representação proporcional dos sexos nas Mesas Diretoras da Câmara, do Senado e de todas as comissões, permanentes ou temporárias. A proposta assegura ao menos uma vaga para mulheres nessas Mesas, quando essa proporção não for alcançada.
A bancada feminina coordenada pela deputada federal Alice Portugal (PCdoB) fez a sua parte. Mobilizou mulheres do país inteiro divulgando a Minireforma Eleitoral que prevê para os partidos políticos a exigência de 30% das cotas de mulheres nas candidaturas, o que não foi cumprido por muitas agremiações partidárias nestas eleições. A Lei também estabelece que 10% do tempo da propaganda partidária sejam destinados às mulheres, assim como 5% do Fundo Partidário seja alocado na formação de novas lideranças femininas. Única mulher eleita deputada federal na Bahia com 101.588 votos, Alice Portugal afirmou que pretende continuar a luta iniciada na Bancada Feminina na última legislatura para que seja cumprido de fato o que foi aprovado em Lei; para que as mulheres tenham um novo espaço nos partidos afirmando-se no exercício da sua cidadania.
O que será que aconteceu nestas eleições?
As eleitoras mulheres não se sentem representadas pelas parlamentares mulheres?
E o que dizer da eleição presidencial em que pesquisas dos institutos deram conta de que a quantidade de homens que escolheram Dilma Roussef (PT) como candidata preferencial foi maior do que o número de mulheres? Será que para as mulheres uma mulher não deve e não pode está no comando do País?
Será preconceito ou aceitação de um papel submisso em relação aos homens, o que ratifica a condição secular da mulher brasileira que sempre foi colocada na cozinha e nos cuidados da casa e dos filhos, resultado da formação da nossa sociedade de cunho patriarcal e machista?
Nas ondas dos boatos do submundo da política contra a candidata Dilma Roussef, muitas mulheres estão surfando e reproduzindo situações esdrúxulas. Vi e ouvi de algumas mulheres às gargalhadas, rindo satisfeitas, afirmando que a candidata é “sapatão”, é a favor do aborto, é “assassina” e muitas outras acusações próprias das manipulações e invencionices perigosas deste período eleitoral, divulgadas aos montes, principalmente através da internet, onde lixos eletrônicos se espalham como rastilho de pólvora.
O pior é que esses boatos são os únicos “debates” reproduzidos Brasil afora, pela boca de grande parte de mulheres brasileiras, que não vão votar na candidata mulher. Não importa o debate dos programas e dos projetos dos candidatos para o Brasil. O que importa é que um “virou santo”, portanto, é do “bem” e a outra é do “mal”, por que fulano disse, tem um vídeo no youtube, o pastor tal falou, o padre daquela igreja comentou, o pregador daquele centro espírita incorporou, o pai de santo profetizou, o irmão do primo daquele rapaz me disse e por aí vai...
Esse tipo de discurso mesquinho revela ser de uma baixeza sem precedentes. Revelam também preconceito contra o próprio gênero e em minha opinião, a reprodução dessas informações torna-se um tiro no próprio pé. Esse tipo de comportamento acaba alimentando e retroalimentando, afirmando e reafirmando o preconceito contra a própria luta das mulheres pela emancipação política, social e contra a violência sexista. Além de contribuir para ratificar e robustecer no imaginário social e no inconsciente coletivo o papel secundário da mulher brasileira construído há mais de 500 anos pela sociedade patriarcal que sempre tivemos. Comportamento desse tipo revigora e ratifica a triste estatística de que a cada minuto uma mulher no mundo sofre violências de todo o tipo.
Reitero aqui meu respeito a democracia e a escolha livre de voto de cada um. Porém, acredito que este é o momento para reafirmamos e consagrarmos a luta das mulheres por um mundo melhor de igualdade e paz!
Mulheres de todo o Brasil, uní-vos!
Dilma presidente.
*Ricardo Carvalho –diretor da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe
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