Por Daniel Thame
Há cerca de três meses, o empresário Guilherme Leal, dono da Natura e atual candidato a vice-presidente da república na chapa de Marina Silva (PV), protagonizou uma farsa.
Escudado pela Rede Globo, Leal capitaneou um abraço simbólico na Lagoa Encantada, em Ilhéus, com o claro objetivo de criar um clima desfavorável à liberação da licença ambiental para a implantação do Porto Sul.
Simbólico mesmo, porque o evento, repetido à exaustão nos telejornais da Rede Globo da Globonews, reuniu um pequeno grupo, entre artistas de segunda linha e ambientalistas contrários ao projeto.
E farsa, porque a construção do Completo Intermodal que inclui o Porto Sul, não terá impactos sobre a Lagoa Encantada, um paraíso ecológico encravado entre fazendas de cacau e remanescentes da Mata Atlântica.
Mas, entre a beleza da Lagoa Encantada e a rudeza da Ponta da Tulha, um vilarejo extremamente carente onde será implantado o Porto Sul, optou-se pelo engodo.
Para quem não é do Sul da Bahia ou desconhece o projeto (no caso, os milhões de brasileiros que assistem a Rede Globo), ficou a impressão de que o Porto Sul provocará uma espécie de apocalipse ambiental, levando de roldão a lagoa e seus possíveis encantos.
Embora, para Guilherme Leal e seus parceiros de empreitada, o que importa mesmo é inibir o Ibama, para que a licença ambiental que permitirá o início das obras não seja concedida.
O mundo gira, a lusitana roda e eis que o paladino da natureza é pego num pecadilho que, a depender dos desdobramentos, pode se revelar um pecadão.
Sabia-se, de antemão, que o interesse de Guilherme Leal, era proprietário de extensas áreas de terras em Serra Grande, próximas ao Porto Sul. Intuía-se que sua preocupação era menos com o meio-ambiente e mais com a preservação do seu próprio paraíso.
Agora, descobre-se que o empresário ecológica e socialmente responsável pode ser muito zeloso em defender o meio-ambiente dos outros, mas é, no mínimo, negligente quando se trata de cuidar do próprio quintal.
Guilherme Leal está construindo complexo residencial de alto padrão, numa área de mais de 200 hectares situada entre Serra Grande e Itacaré. A obra é realizada numa Área de Preservação Permanente, onde há dunas e restinga, e não possui autorização nem do Ibama nem do Instituto do Meio Ambiente (IMA).
No “paraíso” de Guilherme Leal, as agressões ao meio ambiente, que ele afirma serem autorizadas, são gritantes, como a retirada da mata de restinga. Fiscais do Ibama já comprovaram o desmatamento. Além disso, a construção está localizada num ponto bem próximo à barra dos rios Tijuípe e Tijuipinho.
O empresário se defende e diz que está sendo vitima de perseguição por conta de sua cruzada anti-Porto Sul, mesmo diante dos sinais evidentes da devastação provocada na natureza.
Já os ambientalistas, os mesmos que trombeteiam o fim dos tempos no bojo da chegada do Porto Sul, ou estão caladinhos ou defendem o parceiro (seria chefe?), alegando que o empreendimento se trata de um modelo de desenvolvimento sustentável.
A “cegueira” pseudo-ecológica tem lá suas razões.
Milhares de razões.
Naturalmente.
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