A pré-candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff, abre seu coração em entrevista para CartaCapital e detalha o significado do bordão “avançar, avançar, avançar”, deixando claro que é a candidata de um projeto, não de uma pessoa – projeto representado por Lula e, agora, por ela, que assegura a continuidade e o avanço nas mudanças.
Por José Carlos Ruy
Dilma, a continuidade do projeto de LulaÉ um equívoco, veiculado pela enésima vez (agora noutro texto do jornalista Fernando Rodrigues) que, numa coincidência feliz, pode ser desfeito noutra matéria, de gabarito mais elevado, publicada na revista CartaCapital (09/06/2010): a entrevista da pré candidata aos jornalistas Cynara Menezes e Sérgio Lírio, anunciada na capa da revista com a manchete “O que pensa Dilma”.
Leia também a íntegra da entrevista:
Carta Capital: Dilma solta o verbo
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O equívoco jornalístico que a entrevista desfaz é simples: Dilma não é a candidata pessoal de Lula, como Lula não foi candidato de si próprio em todas as cinco eleições presidenciais em que foi figura central: as disputas de 1989, 1994 e 1998, que perdeu, e de 2002 e 2006, que venceu.
Lula foi candidato de um projeto de mudanças para o Brasil, projeto que tem sua continuidade representada agora pelo nome de Dilma Rousseff. Esta percepção não exige muito discernimento nem elucubração, como revela a entrevista de Cynara Menezes e Sérgio Lírio, na qual a pré-candidata aparece de corpo inteiro e coração aberto.
Fala de tudo: desde os problemas enfrentados historicamente pelas mulheres numa previsível véspera da eleição da primeira presidenta brasileira, até as preocupações que Dilma pretende levar para o Palácio do Planalto.
Ela é simples e direta. Seu sonho, diz, é avançar, avançar e avançar, sequência de três palavras que já virou um bordão de sua aspiração presidencial. Quer “caminhar para que este seja um país desenvolvido. Foi o que o presidente Lula construiu e que a gente pode fazer”, disse. Com o pé no chão, lutando para erradicar a miséria e a pobreza. A partir de um projeto de nação (“tenho um projeto de nação”, acentua).
O Brasil entrou “numa era de prosperidade” cujos componentes são a inclusão, a mobilidade social, o fortalecimento do Estado e recuperação de sua capacidade de investimento, a exploração do pré-sal, o fortalecimento da agricultura e o apoio à agricultura familiar, a aplicação de uma política industrial para fomentar o desenvolvimento do país, na melhoria da educação, na política cultural, no respeito à soberania nacional, continuando a política aplicada pelo governo Lula. Numa compreensão de que o atual projeto se desdobra no tempo, insiste em avançar, que liga com a continuidade. “Se não avançar, não está continuando” a partir do alicerce que, disse, “Lula construiu para o futuro”.
Dilma minimiza, por outro lado, as críticas feitas pela mídia ao projeto que, desde 2003, está à frente da Presidência da República. Perguntada sobre uma eventual tendência da imprensa em hostilizar seu governo, tinha a resposta na ponta da língua: “De que adianta? Qual a eficácia? Mais do que somos criticados, e daí? Qual a nossa aprovação? 76%...”
Com seu estilo direto, não de questões sensíveis, como a acusação de “ter sido terrorista” feita por setores conservadores. Em primeiro lugar, ela não acredita que esse tipo de acusação vai se intensificar durante a campanha. E garante: “a discussão sobre a resistência à ditadura é contraproducente para quem não resistiu”. E avança: “Sinto muito orgulho de ter resistido do primeiro ao último dia, de ter ajudado o País a transitar para a democracia e de não ter mudado de lado”.
Não fugiu, por exemplo, de questões de natureza pessoal. Perguntada sobre eventuais pretendentes atraídos pelo visual novo e pelo cargo que quer exercer, não teve dúvida: “É o tipo da coisa que não dá tempo nem de a gente pensar, nessa função. Agora, não sou contra, não, viu? As pessoas namorarem, coisas assim. Acho bom”.
E, entre Margareth Thatcher e Michelle Bachelet, também não vacilou e comparou-se à ex-presidenta do Chile, outra mulher e lutadora contra a ditadura militar em seu país que alcançou à Presidência da República, vínculos simbólicos de um passado de lutas que avaliza a segunda parte da resposta: “Não tenho a posição conservadora da Thatcher” disse, taxativa. Para terminar, nesse tom, declarando-se uma pessoa feliz e alegre. “Gosto de viver”, foi a frase derradeira de sua entrevista.
do Portal Vermelho
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