segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O Amor como Terapia

Por Leila Cordeiro

No filme "Talk to her", do original espanhol de Almodovar," Hable con ella", o enfermeiro Benigno, ao cuidar de uma paciente, a dançarina Alicia, em coma, passa a amá-la loucamente, relacionando-se com ela como se ela o escutasse, lendo, conversando e mantendo-a sempre arrumada e bonita. No mesmo hospital, uma toureira também está em coma , ferida numa tourada, mas não tem a mesma sorte de Alicia. Suas visitas vão apenas vê-la, nada mais do que isso, ninguém fica a seu lado tentando fazê-la acordar do coma.

Depois de um ano, Alicia, a bailarina, acorda e a outra, a toureira, continua seu sono profundo. Entre outras mensagens, Almodovar passa a idéia de que o amor e a dedicação, muitas vezes, podem salvar a vida de alguém. Assim como fêz o enfermeiro Benigno.

Me lembrei desse filme, ao tomar conhecimento da história real de uma garotinha de apenas 4 anos, Aliza, que tem quase o mesmo nome da protagonista do filme de Almodovar. Durante um churrasco na casa dela, em Miami, Aliza caiu acidentalmente na piscina. Como havia muita gente, só perceberam o acidente tarde demais. Ela foi retirada da piscina desacordada, praticamente morta.

No hospital, os médicos disseram que apesar do coração estar batendo, o cérebro de Aliza estava paralisado e seria muito difícil que ela acordasse do coma. Os pais, desesperados, sentindo-se culpados por não terem percebido que Aliza estava se afogando, não se entregaram. Começaram uma luta sem trégua para trazer Aliza de volta à vida.

Um mês depois de internada, o estado da menina continuava o mesmo: coma profundo e nenhum sinal de recuperação. Os médicos a liberaram para voltar para casa, pois estava desenganada. Mas seus pais não desistiram. Montaram uma UTI no quarto de Aliza e contrataram uma enfermeira em tempo integral para tentar recuperá-la.

Noite e dia, numa terapia intensiva, revezavam-se ao lado de Aliza. Uma hora lendo para ela, outra conversando e em alguns momentos mexendo seus pés e mãos, tocando suas pernas, acariciando seu rosto, sussurrando palavras de amor e incentivo ao pé do seu ouvido, enfim, tratando-a como se estivesse presente, consciente, entendendo tudo o que se passava.

Durante um ano, exatamente como no filme, os pais foram incansáveis ao seu lado. Sem desistir um momento sequer de lutar pela recuperação da filha. Tanto esforço e coragem acabaram tendo sua recompensa. Aliza, um belo dia fez sua mãe dar um grito de surpresa e alegria. De repente, ela mexeu levemente uma das pernas.

De lá pra cá, Aliza tem feito progressos em seus movimentos, apesar de ainda não estar consciente, apresenta sinais de que entende o que estão falando a seu lado. Quando os pais pedem que ela se mexa, Aliza o faz lentamente e consegue movimentar mãos e pernas devagar.

Conscientes de que ainda há uma árdua luta pela frente até que Aliza possa acordar completamente, os pais estão confiantes. Vão continuar a terapia de "amor intensivo" incentivando Aliza a vencer o coma, abrindo os olhos para a vida como se estivesse nascendo de novo.

Para eles, assim como foi para Benigno, da Alicia de Almodovar, o que vale é poder estar ao lado de quem se ama quando esse alguém mais precisa, sem desisitir nunca de lutar pela sua sobrevivência. Tomara que desta vez a vida possa realmente imitar a arte!

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