segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Coronel torturador covarde chama torturados de "terroristas"

Deu na Folha e em todos os blogs inteligentes. O coronel reformado do Exército Brasileiro, o tal Carlos Alberto Ustra, tenta em livro justificar torturas e mortes nas prisões da ditadura chamando os torturados de "terroristas". Chega a ser inacreditável. O coronel é um criminoso. Seus atos são crimes contra a humanidade, portanto, não há anistia para ele.

SEGUE A MATÉRIA DA FOLHA:

Segundo militantes do PCB, tidos como pacíficos pelo governo, coronel reformado do Exército liderou Operação Acarajé, em 75Documentos sigilosos do antigo SNI contabilizam 42 prisões na operação e 14 condenados em 1ª instância; Ustra nega as acusações

No seu livro "Rompendo o Silêncio" (Editerra Editorial, 1987), o hoje coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, 76, escreveu: "Nossos acusadores reclamam com frequência de nossos interrogatórios. Alegam que presos inocentes eram mantidos horas sob tensão, sem dormir, sendo interrogados".

Segue: "Reclamam, também, de nossas "invasões de lares", sem mandados judiciais. É necessário explicar, porém, que não se consegue combater o terrorismo amparado nas leis normais, eficientes para um cidadão comum. Os terroristas não eram cidadãos comuns". Ustra é associado - por partidários seus e por detratores- ao combate às organizações armadas de oposição à ditadura.

Agora, ex-presos políticos da Bahia o acusam de participação em um episódio no qual eles relatam invasão de lares, interrogatórios com espancamento e sessões de tortura com choque.

O chefe da operação, afirmam, foi Ustra, que teria usado o codinome "doutor Luiz Antônio". Acontece que nenhum dos presos na ação denominada Operação Acarajé era ligado à então já exterminada guerrilha - na expressão adotada por Ustra, ao terrorismo.

Eram militantes e simpatizantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro), também oposicionista e de esquerda, mas avesso ao emprego de armas e violência contra o regime militar -como o próprio governo da época reconhecia.
Documentos sigilosos do antigo SNI (Serviço Nacional de Informações), hoje sob guarda do Arquivo Nacional, contabilizam 42 prisões - inclusive um vereador do MDB - na Operação Acarajé e 14 condenados em primeira instância. Alguns passaram quase dois anos na cadeia pelo crime de reorganizar um partido proscrito.

As diligências ficaram a cargo do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações -Centro de Operações de Defesa Interna) da 6ª Região Militar. Na época, conclui-se pelo cruzamento de dados dos dois livros de Ustra (o outro é "A Verdade Sufocada", Editora Ser, 2007), o oficial chefiava a Seção de Operações do CIE (Centro de Informações do Exército).

Cumpria missões também fora da base, Brasília. De setembro de 1970 a janeiro de 1974, ele comandou o DOI-Codi do 2º Exército, em São Paulo. Era conhecido como "Tibiriçá". No período, ao menos 40 pessoas foram mortas naquele local, conforme o jornalista Elio Gaspari no livro "A Ditadura Encurralada" (Companhia das Letras, 2004).

No ano passado, a Justiça paulista declarou Ustra, em decisão de primeira instância, responsável por tortura e sequestro em 1972 e 1973. A ação que originou a sentença é declaratória - não implica pena ou indenização. Ustra nega as acusações e afirma que nunca torturou. Ele apelou ao Tribunal de Justiça.

"Cara de Silvio Santos"

Os detidos de 1975 contam que foram levados por homens que se apresentaram como policiais, algemaram-nos e os encapuzaram. Deram em um lugar que os militantes pensam ficar em Alagoinhas, a cerca de 120 km de Salvador. O engenheiro Luiz Contreras, 85, teve uma costela partida pelo que ele narra ter sido um soco. Contreras diz que os torturadores prendiam fios elétricos nas suas orelhas, nos pés e no peito. "Quando gira a manivela dá uma descarga que parece que você vai desaparecer.

"O operário petroquímico José Ivan Dias Pugliese, 58, lembra de ter levado choques duas vezes e de ter sido espancado. Seu então cunhado Carlos Augusto Marighella, 60, também trabalhador da indústria petroquímica, diz que os militares jogavam água no chão para "potencializar os choques". Filho do líder guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969), o hoje advogado Carlos Augusto permaneceu no PCB, sem aderir à luta armada.

Maria Nazaré de Lima, 58, era dirigente estudantil. Presa com a filha de um ano, ela ficou dias sem ver a menina, depois entregue a parentes. Nazaré recorda que os detidos, entre os quais seu marido, foram amarrados a uma corda única, feito caranguejos. "Se um ia defecar, todos iam. Era humilhante.

"Os presos entrevistados pela Folha, separadamente, dizem que estavam de capuz durante a tortura, mas julgam não terem sido agredidos pelo "doutor Luiz Antônio". Sustentam, contudo, que ele dava os ordens mais importantes e chegava a decidir o momento em que cada um seria torturado.

Eles associaram o "doutor Luiz Antônio" a Ustra em 1985, quando o coronel foi apontado pela então deputada Bete Mendes como sendo o "Tibiriçá" do DOI-Codi.
Os ex-presos contam ter visto o rosto do captor nos momentos em que lhes permitiram tirar os capuzes. Afirmam que nunca organizaram uma denúncia coletiva pública, entre outros motivos, porque em 1985 estavam politicamente distantes. "Todo mundo o reconheceu em 1985", diz Pugliese. "Antes eu não tinha nenhuma informação para ligar o nome à pessoa.

Na época, Ustra era parecidíssimo com o Silvio Santos. Ele se apresentou pela primeira vez oferecendo cigarro e conhaque. Disse: "Nós podemos tratar as coisas civilizadamente ou como na Idade da Pedra".

Era o Ustra", concorda Contreras. Marighella acrescenta: "Ele tem um rosto marcante e sotaque sulista". "Uma vez falou: "Quero dizer para vocês que o presidente Geisel virou a mesa. Nesse momento, em todo o Brasil, todos os corruptos e comunistas foram presos. Essa será a noite de São Bartolomeu".

É como se fosse a ordem do dia. A gente imaginou que fosse uma noite de tortura, sevícias, por aí afora."

Do Bahia de Fato

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