domingo, 7 de novembro de 2010

As escolhas de Dilma Roussef

Por André César, CAC Consultoria Política

Com o afastamento por quase dez dias da presidente eleita, Dilma Rousseff, da cena política, os agentes econômicos e as lideranças partidárias poderão apenas especular sobre a escolha dos principais ministros de Estado. Os mercados, contudo, seguem tranqüilos porque sabem que esta incerteza é mais aparente do que real. Descontando questões específicas sobre personalidades, a verdade é que a liberdade de escolha de Dilma Rousseff segue bastante limitada pela natureza de sua eleição, pela relação com o governo Lula e pelos desafios econômicos correntes.

Casa Civil - A escolha da chefia da Casa Civil é a equação mais simples. A posição central do deputado Antonio Palocci (PT-SP) no comando da campanha vitoriosa, sua experiência no ministério da Fazenda e a simpatia do presidente Lula o tornam a escolha natural para o comando das articulações políticas do próximo governo. Nesse plano de análise, não tem concorrentes.

O problema, contudo, é exatamente sua dimensão como liderança política. O temor de que possa ocupar espaço próprio da presidente da República é matéria corrente do noticiário, sem que tal restrição seja negada por Lula ou por Dilma Rousseff. Nos dias que se seguiram à eleição, as primeiras especulações mais substantivas foram justamente em torno de nomes alternativos a Palocci.

Nesse caso, contudo, a escolha é binária. A nomeação de Palocci para a Casa Civil seria um indicativo de alinhamento com o pragmatismo dos primeiros anos do mandato de Lula e de comando centralizado da articulação política. Os demais nomes em circulação reduziriam a Casa Civil à posição de mero gerente sob o comando do presidente da República.
No momento, este último cenário parece ligeiramente mais provável.

Equipe econômica - O elenco de nomes disponíveis para a composição da equipe econômica também parece bastante limitado. Não existem especulações sérias sobre cargos, por exemplo, para um tradicional “grande empresário” e nenhuma alternativa foi consolidada pela campanha eleitoral. O ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT-MG), sempre citado por sua relação pessoal com Dilma Rousseff, envolveu-se em polêmicas sobre espionagem política durante a campanha. Perdeu peso político, mas também não foi retirado da campanha, abrindo eventualmente espaço para outro nome.

A natureza da vitória eleitoral de Dilma também não deixa muito espaço para um cenário de pura heterodoxia. A presidente eleita deu todos os sinais de que manterá compromissos sólidos com o combate à inflação e com o controle dos gastos. Não adianta ampliar a lista de hipóteses, portanto, com os nomes de Luciano Coutinho, hoje presidente do BNDES, ou com o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa. No cenário básico, só existiria um lugar à disposição de um desenvolvimentista.

E existem outras condicionantes. Os serviços prestados por Henrique Meirelles o fazem credor de uma posição ministerial. Ele mesmo, por sinal, já deu todas as indicações de que não pretende ficar no Banco Central. Quanto ao ministério da Fazenda, sempre foi ocupado, até aqui, por uma personalidade ligada diretamente ao Partido dos Trabalhadores.

A limitação das escolhas e o momento vivido pela economia terminam recomendando um grau elevado de continuidade e não é por outra razão que um cenário de permanência dos atuais titulares ganhou força nos últimos dias. Além da mudança de governo, por sinal, não há razões técnicas ou políticas para troca de comando na Fazenda ou no BC.

Assim, é quase certo que a presidente Dilma termine adiando suas decisões sobre a composição da equipe econômica para seu retorno da viagem à Coréia do Sul e tornou-se provável que as mudanças anunciadas sejam mínimas, no fim das contas.

As manifestações pessoais da presidente eleita, até aqui, trouxeram a marca de sua gratidão ao presidente Lula. Apesar de todas as declarações de independência e autonomia, portanto, é natural reconhecer que ela continuará ouvindo a liderança responsável por sua ascensão e sua vitória.

E, do ponto de vista de Lula, não há razões para mudar. Seu sucesso foi conquistado com uma equipe econômica de perfil variado e uma Casa Civil técnica, que não alimente projetos próprios de poder.

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