segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Alcoólatras interpretam mal emoções alheias, diz estudo


Das muitas coisas que o alcoolismo pode roubar - carreiras, vida, saúde, memória ¿ uma das mais desoladoras são os relacionamentos. E, dizem os pesquisadores, a razão para esta perda se deve ao fato de que os alcoólatras têm dificuldades para interpretar as emoções alheias. Este problema, porém vai além de questões emocionais. Um novo estudo realizado por cientistas da Universidade de Boston e do Hospital Geral de Massachusetts mostra que essa tendência pode ser observada no funcionamento do cérebro dos alcoólatras. O estudo foi publicado no site do jornal Los Angeles Times.

Não só familiares, mas pesquisas já demonstravam anteriormente que os alcoólatras realmente têm dificuldades para perceber corretamente as emoções, às vezes sentindo-se ofendidos quando nenhuma ofensa foi destinada a eles ou não percebendo quando um ente querido está triste, alegre, furioso ou desiludido.

Mas como o álcool faz tudo isso? Um novo estudo constatou que, no que diz respeito à competência para a leitura de expressões faciais, os cérebros dos alcoólatras são muito diferentes dos das pessoas que não bebem. Em relação aos outros, os cérebros dos alcoólatras têm essa capacidade empobrecida. Enquanto estão observando rostos, eles têm intensidade muito menor na atividade da amígdala e hipocampo (conhecido como o sistema límbico, ou sistema responsável pelas emoções). Esse empobrecimento pode ser observado mesmo naquelas pessoas que hoje são abstêmias.

Neste estudo, os pesquisadores pediram a 15 alcoólatras abstêmios a 15 pessoas que não possuíam a doença, que olhassem imagens de rostos. Para cada imagem que passava, os pesquisadores faziam a pergunta: "Quanto inteligente é essa pessoa?" Cada rosto expressava emoções positivas, negativas ou neutras.

Enquanto isso, os cientistas acompanhavam a atividade cerebral dos voluntários segundo a segundo, usando ressonância magnética funcional.

O sistema límbico das pessoas que não bebiam mostrou forte atividade quando as fotos projetavam emoção, mas ficava relativamente calmo quando as expressões eram neutras.

O sistema límbico dos alcoólatras, no seu conjunto, não teve atividade diferente se os rostos expressavam emoções fortes ou nenhuma emoção.

Nos dois grupos, os participantes foram divididos por fatores como idade, QI, educação e nível socioeconômico. Mas, as diferenças no funcionamento dos cérebros só puderam ser percebidas entre alcoólatras e não-alcoólatras. Os cérebros desses dois grupos reagiram de forma completamente diferente quando confrontados com sinais de raiva, alegria, tristeza ou decepção.

O resultado foi publicado na revista Alcoholism: Clinical and Experimental Research.

O ovo ou a galinha? Um dos autores do estudo, Ksenija Marinkovic, adverte para uma questão ainda sem resposta: será que o alcoolismo cega a sensibilidade emocional ou a insensibilidade emocional nessas pessoas existe antes do alcoolismo?

A ideia de que o álcool danifica o cérebro faz sentido por intuição. Mas alguns estudos sugerem que déficits cognitivos nas crianças - especialmente na área da inteligência emocional - podem detonar uma cascata de acontecimentos que podem conduzir ao alcoolismo.

No passado, pesquisadores já haviam demonstrado que os filhos de alcoolistas apresentam frequentemente as mesmas dificuldades em ler emoções. Filhos de alcoólatras têm um risco muito maior de desenvolver essa doença. "É um problema do ¿ovo ou a galinha¿. Nós simplesmente não sabemos o que vem em primeiro lugar", disse Marinkovic.

Redação Terra

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